Palavras choradas em prantos escuros e sombras deixadas em versos noturnos, tanto amor abandonado pela noite, tanto desgosto sadio e doente. Palavras que choraram no meu ombro, e esse amor que abriu tantas feridas perdidas no corpo desta alma pisada feita pó.
Tanto sentimento que doía como dor de doença, tanto sentimento que não cabia
nem em versos, nem num poema. Sentimento entre muros abrigado dessas tuas palavras caladas, desse teu silêncio obsceno... De um olhar como veneno, sentimento apagado entre tanto silêncio, entre o escrito e o não dito.
Amava...
Pobre de minha alma que sonha e ama.
Tantas ilusões que matou o seu coração. E meu querido, você em outros olhos chorou, em outra alma andou abrigando-se. Outra alma consumiu. E outra palavra destruiu para lhe ceder, a quem esse amor não queria obedecer. Corri de sua retórica alucinógena! De seus desejos trágicos e não seria eu a lhe presentear com o suicídio, a culpa é de tua sombra que não sabe onde encontra as asas mais protetoras... Corri e fui a nossa casa. Olhei se a caixinha de música que tu me destes no dia do nosso aniversário de vida ainda tocava, também corri e fui ver se teu soldado de chumbo ainda andava com esforço.
Teus papéis estavam todos organizados, eu sempre ando arrumando... O chão estava limpo, mas tu sabes que não vou limpar meus pés antes de deitar na sua cama, olhava o laço no chão e segui na certeza de que apenas existiria; pois a vida foi tirada de mim... Vieram e arrancaram minh'alma... O vazio tenebroso daquele penoso momento trazia para meu ser um sombrio silêncio, que me tornava um ser de semblante sepulcral; e sabia ser vazia sua companhia por tempo indeterminado...
Lembrei da nossa noite anterior, foi uma noite ordinária esse nosso encontro. Dormimos e conversamos coisas que nem lembro e não precisava lembrar. É que dormimos respirando um o ar do outro. Depois do jantar, em sua casa, leu Saramago. Leu como acadêmico, sem lascívia nem dor existencial. Melhorou quando você parou de se atrever e colocou um CD dos Los Hermanos. Malditos apaixonados sem compromissos.
Verde.
Vermelho
Preto.
Azul.
Vermelho.
Preto.
Eu amo suas tonalidades, mesmo triste, mesmo preto e branco porque pra mim você sempre tem cor, ocupado e completo o gentil mentiroso. A teus pés me comporto, tenho fé em reticências e estreitas ligações, maligno é ser objeto indireto. O amor salta aos trampolins, mas amor não é tiro de festim. Mulher de graça, Ave Maria descalça, relógios se exibem aos falsetes das horas que engolem nossos dias. Vejo que na sua escrivaninha tem um novo relógio jogado, por que você vive comprando relógios? É pra ver qual seria o melhor modelo para pulsar o tempo? Ou a melhor hora de ir embora?
Relógios à prova d’água, relógios dourados, relógios caros, relógios baratos. Relógios e relógios e mais relógios. Parecia que no mundo só havia relógios. Tentei persuadir-lo a investir seu dinheiro em algo rentável que pudesse ser dele por muito tempo. Vejo que ele tem seu relógio pulsando tempo, dizendo horas, ditando obrigações e histórias. Quanto a mim, não uso relógio. Há séculos percebi que horas fogem de mim. Cansei de agarrar tempo que não me pertence. Porque é fugitivo. Pode rir... Tudo o que está por dizer escrevo.
Você fala de silêncios enquanto de ti faço poemas. Podes bater com a porta quando saíres?
Não digas palavra nenhuma, sai no silêncio em que entraste não queiras desprender as amarras, não esqueça que de carne sou, que olhos tenho, e no corpo sinto as marcas de nossas noites febris. Cuidado. Eu enxergo por detrás da máscara, senta. Trapaça esse modo sonso de me querer correndo, tenho aclives e declives, não sei rezar, não sei te pedir pra ficar. Teu amor deita comigo e desperto em vão, fica aqui até eu dormir? Tem urgência o grito que acorda com fome, vem. Você é cego, criatura? Não espere por meus verbos e substantivos, olhe minhas mãos, meus olhos fechados olhando pra você, eu ando arrumando teus livros, fazendo tua comida, guardando teus restos, afinando teu violino, escrevo saciada de abundância, desnutrida por excesso.
Escrevo-te desejada de ti, plantada aos teus pés, escreva-me embriagado de mim. Tenho que manter a calma, pois eu nasci sabendo voar, (GRITANDO): Tu não podes me prender, homem! Eu estou irremediavelmente morta e entregue, e ele, já sem olhos para ver, pensando que me alimenta e eu imaginando que o conduzo, findou-se o infinitivo dos verbos homem, e é tão teu meu coração aflito e manso. Agora estou aqui em nossa casa te esperando, preciso de você aqui escutando músicas no último volume, quero ter o prazer de rir e te pedir pra que diminua. Tola... Vejo que você vai levar consigo as horas e eu vou permanecer só, esboçando meu ingênuo sorriso.
Sen/horas e sem dores.
“Caberá ao nosso amor o que há de vir”