terça-feira, março 15, 2011

São mediterrâneos quaisquer olhos como os meus.

Havia uma falta de direitos naquele inferno e nas tuas mãos enquanto me roubavas,
e me roubaste conto por conto, teus lábios soltos, gelados, amargos, naquela 
 ocasião me espreitava os pés, eu dei-te tudo, e já não tinha nada antes de dar-te.
Olhava-me com certo horror não sabia que sou essa coisa descontinuada e morta,
afixada nas pontas dos dedos com a barriga tocando o vão, ontem os arredores de minha alma
interrogavam-me sobre as partilhas se eram de boas idas.

Nota: Tratava-se do meu corpo quando me alertaram das dores?
 Desculpe-me, eu estava sonhando.

- Conta logo anjo! Conta logo!

 Contei-te tudo estrela, tudo. Teus dedos suplicantes em meu pescoço enraizados, machucando a carne, o sangue que te nutria agora estava causando-me dores.


- Vai anjo, conta!

Deixava uma saliva escapar com muito custo, perturbada
fechei meus olhos por puro extinto. (tola, de um olho aberto, lábios soltos, rosto rígido, enlaçada contra a parede por olhos aturdidos, loucos.)
Chegaste afobado a esses odores de correria, chegaste sem pai nem mãe sem vergonha na cara suja, cravaste a mão dormente em minha boca.

- Conta louca! Conta!

Nota: Tratava-se do meu corpo?
Não me interrogaram a tempo, eu disse que aceitava ser feliz!
Pensava que os arredores de minha alma se comportariam e que meus músculos suportariam minhas pernas.

Cuidado! Tem um pedaço do meu corpo aí. “Boa noite”

Os lábios me cuspiam sem querer, contei-te tudo enquanto 
nessa ocasião me matava com palavras.
Contei que eu não valia nada e que eu hei de quedar aos céus indeparáveis, já onde ergueu-se tua morada à sucção de entornados tijolos teus, sem barro, sem mãos pecadoras neles, pois os únicos pecadores aqui somos nós.
Contei-te tudo “os meus olhos dos teus adormecem”.
Contei-te tudo pelos tubos, pelas artérias, pelas unhas, pelos pés, pelo cuspe nasci/cresci/morri.

Estou gorda de tua alma que entra e dorme, e grita-me a emagrecer-me.

-Contei-te tudo, estrela.

segunda-feira, março 07, 2011

Sen/horas e sem dores. - Cinco e quinze.

      

       Palavras choradas em prantos escuros e sombras deixadas em versos noturnos, tanto amor abandonado pela noite, tanto desgosto sadio e doente. Palavras que choraram no meu ombro, e esse amor que abriu tantas feridas perdidas no corpo desta alma pisada feita pó.
       Tanto sentimento que doía como dor de doença, tanto sentimento que não cabia
nem em versos, nem num poema. Sentimento entre muros abrigado dessas tuas palavras caladas, desse teu silêncio obsceno... De um olhar como veneno, sentimento apagado entre tanto silêncio, entre o escrito e o não dito.

 Amava... 
Pobre de minha alma que sonha e ama.
        Tantas ilusões que matou o seu coração. E meu querido, você em outros olhos chorou, em outra alma andou abrigando-se. Outra alma consumiu. E outra palavra destruiu para lhe ceder, a quem esse amor não queria obedecer. Corri de sua retórica alucinógena! De seus desejos trágicos e não seria eu a lhe presentear com o suicídio, a culpa é de tua sombra que não sabe onde encontra as asas mais protetoras... Corri e fui a nossa casa. Olhei se a caixinha de música que tu me destes no dia do nosso aniversário de vida ainda tocava, também corri e fui ver se teu soldado de chumbo ainda andava com esforço.
   
       Teus papéis estavam todos organizados, eu sempre ando arrumando... O chão estava limpo, mas tu sabes que não vou limpar meus pés antes de deitar na sua cama, olhava o laço no chão e segui na certeza de que apenas existiria; pois a vida foi tirada de mim... Vieram e arrancaram minh'alma...  O vazio tenebroso daquele penoso momento trazia para meu ser um sombrio silêncio, que me tornava um ser de semblante sepulcral; e sabia ser vazia sua companhia por tempo indeterminado...
   Lembrei da nossa noite anterior, foi uma noite ordinária esse nosso encontro. Dormimos e conversamos coisas que nem lembro e não precisava lembrar. É que dormimos respirando um o ar do outro. Depois do jantar, em sua casa, leu Saramago. Leu como acadêmico, sem lascívia nem dor existencial. Melhorou quando você parou de se atrever e colocou um CD dos Los Hermanos. Malditos apaixonados sem compromissos.

  Verde.
 Vermelho
 Preto.

 Azul.

    Vermelho.

  Preto.

       
Eu amo suas tonalidades, mesmo triste, mesmo preto e branco porque pra mim você sempre tem cor, ocupado e completo o gentil mentiroso. A teus pés me comporto, tenho fé em reticências e estreitas ligações, maligno é ser objeto indireto. O amor salta aos trampolins, mas amor não é tiro de festim. Mulher de graça, Ave Maria descalça, relógios se exibem aos falsetes das horas que engolem nossos dias. Vejo que na sua escrivaninha tem um novo relógio jogado, por que você vive comprando relógios? É pra ver qual seria o melhor modelo para pulsar o tempo? Ou a melhor hora de ir embora?
Relógios à prova d’água, relógios dourados, relógios caros, relógios baratos. Relógios e relógios e mais relógios. Parecia que no mundo só havia relógios. Tentei persuadir-lo a investir seu dinheiro em algo rentável que pudesse ser dele por muito tempo. Vejo que ele tem seu relógio pulsando tempo, dizendo horas, ditando obrigações e histórias. Quanto a mim, não uso relógio. Há séculos percebi que horas fogem de mim. Cansei de agarrar tempo que não me pertence. Porque é fugitivo. Pode rir... Tudo o que está por dizer escrevo.
     Você fala de silêncios enquanto de ti faço poemas. Podes bater com a porta quando saíres?
Não digas palavra nenhuma, sai no silêncio em que entraste não queiras desprender as amarras, não esqueça que de carne sou, que olhos tenho, e no corpo sinto as marcas de nossas noites febris. Cuidado. Eu enxergo por detrás da máscara, senta. Trapaça esse modo sonso de me querer correndo, tenho aclives e declives, não sei rezar, não sei te pedir pra ficar. Teu amor deita comigo e desperto em vão, fica aqui até eu dormir? Tem urgência o grito que acorda com fome, vem. Você é cego, criatura? Não espere por meus verbos e substantivos, olhe minhas mãos, meus olhos fechados olhando pra você, eu ando arrumando teus livros, fazendo tua comida, guardando teus restos, afinando teu violino, escrevo saciada de abundância, desnutrida por excesso.

    Escrevo-te desejada de ti, plantada aos teus pés, escreva-me embriagado de mim. Tenho que manter a calma, pois eu nasci sabendo voar, (GRITANDO): Tu não podes me prender, homem! Eu estou irremediavelmente morta e entregue, e ele, já sem olhos para ver, pensando que me alimenta e eu imaginando que o conduzo, findou-se o infinitivo dos verbos homem, e é tão teu meu coração aflito e manso. Agora  estou aqui em nossa casa te esperando, preciso de você aqui escutando músicas no último volume, quero ter o prazer de rir e te pedir pra que diminua. Tola...  Vejo que você vai levar consigo as horas e eu vou permanecer só, esboçando meu ingênuo sorriso.


                                                     Sen/horas e sem dores.

                                                                                                                                     “Caberá ao nosso amor o que há de vir”