sábado, dezembro 25, 2010

segunda-feira, dezembro 13, 2010

Claustrofobia.

Pela janela. Um senhor caminhando com um cachorro, uma senhora sentada no banco, uma criança correndo na frente da mãe, um carro vermelho sendo multado por estacionar em local proibido, as nuvens esforçando-se para deixar alguns raios de sol passarem. Mormaço.
Sophia na janela. Dói-lhe a cabeça. Luta para não se render às aspirinas, tentando descobrir o porquê da cefaléia. Vez ou outra funciona. Quando descobre algo excessivamente inacabado em seus pensamentos, a cabeça já não precisa mais doer para lembrá-la daquilo, e então consegue curar a sua própria dor. Pelo menos a da cabeça.
Mentalmente retoma os últimos acontecimentos e impressões, quando é acometida por uma invasão de lucidez. Um raio de sol lhe passa pela cabeça, com a autorização das nuvens de seus pensamentos. E, ao olhar pela janela, vê um borrão. (Sim, um borrão. Quando se vê as coisas nitidamente é quando menos se enxerga). Não vê a vida passar, mas vê a vida ficando. As coisas e as pessoas (qual é mesmo a diferença?) ganham tons fortes, cores salgadas, brilhos opacos, movimentos articulados.
Pensa: – “Será?” - Sophia era moça de duvidar dos pensamentos pelos quais era acometida, por mais verdadeiros que parecessem. (Quando se pensa com clareza, é quando mais se engana).
As coisas ganharam vida ou seria ela Sophia que havia ganho um olhar? Porque, oras ... ver e olhar são coisas muitos diferentes. E é esse o pensamento que a toma: que ganhara um relâmpago de olhar. Olhar é coisa que ultrapassa o sentido da visão.
- “Olhar arrepia, né?” – pensa alto, na tentativa de duvidar menos de si. “Difícil isso de olhar as coisas fora de você. Dá até uma dorzinha cretina no peito... que não é ruim.”
As vezes Sophia é tão ensimesmada que se esquece que as coisas ao seu redor também têm vida.
Faz tanto esforço para se manter viva, que a cabeça lateja. Dor de cabeça. Dor essa, que não é localizada, espalha-se. Para lembrar que tem uma cabeça, ela dói.
Isso também acontecia com todo o corpo. Doía para lembrar que existia. Porque ter um corpo era a sua angústia. O corpo é uma prisão, onde se está condenado a passar toda uma vida. Claustrofóbico!
Queria era não ter um corpo, e sair se esparramando mundo afora...Teria coragem para isso? Quem tem?
E, da janela, passando pelo túnel da visão, atingindo o olhar, ela sentia as coisas fora de si acontecendo. E refletindo incessantemente dentro de si. Estava presa dentro de seu corpo, e isso era viver.

domingo, dezembro 12, 2010

.Surto? Delírio? Que nada! Sinal de saúde!

Baloiço em cima de um rochedo que construíste,
misto de esperança e mistério fugaz.
Açoitas-me com a tua fuga silenciosa
e sou acordada de um sonho que nunca julguei capaz.
Meu corpo frágil e inerme refila
perante arma tão cortante e traiçoeira.
É raiva que nasce em mim e que me defende
como que perdida nesta tua repentina ratoeira.
Equilibro-me e cedo e não sei onde caio,
abismo escuro e brilhante que me ofusca.
Agarro-me ao nada e sinto o todo,
o todo que necessito para não perder a busca.
O meu coração é de areia. Foi assim que o deixaste.
Sopraste e ele, desfeito, foi apanhado pelo ar agitado e imenso.
Agora sou de todos e não sou de ninguém.
Cravo as mãos na terra para moldar de novo o que jaz suspenso.
Renasço enraizada por um campo de raiva.
Abro os braços e pelo vento deixo-me levar.
Um dia sepultarei os restos imundos de me criaste
e deles parirei um amor que jamais conseguirei julgar.

sábado, dezembro 11, 2010

Ausências e Murmurações

Gosto quando chegas de surpresa, trêmulo de receios, mas esperançoso de sucesso e feliz.
Vens de um mundo atribulado, vens cansado, cheio de aflições existenciais, de dúvidas imateriais, escondidas, mas perceptíveis para mim.
Onde suas palavras são lidas e relidas, elevadas de elogios e opiniões entusiasmadas por tua capacidade, por tua poesia, ideias audaciosas.
Procurando em mim o abrigo antes certo, agora nem tanto, por tua própria inconstância, mas pleno e seguro para ti, pela própria condição.
Sabes que não tens a delicadeza e muito menos o entusiasmo criador para inspirar romantismos, isso fica somente nos teus escritos, nos teus papéis.
Sua liga não é nada tênue, és incisivo, viril em excesso, até diria egoísta em tuas intenções, pois nada falas, sequer em ecos e murmúrios tão costumeiros.
No entanto, me visto de deusa, longe do que estou realmente, corpo incondizente com a chama sempre acesa, pronta e dócil para o amor, ansiosa.
E te ajudo disposta e fogosa a fazer o pouco de tempo que me dás um opulento e excitante concerto em vários atos, esquecendo o depois.
Tentando olvidar que não sei o que sentes, o que pulsas, o que te move e encanta, naquele momento em que meu corpo é teu esteio, saboreando teu gozo...
Sentindo seu hálito boca a boca, deslizando, mãos e pernas sem qualquer controle, conduzidos pela paixão, falando besteiras, bobagens.
Mas, e na vida há sempre essas ressalvas e vertentes tão indispensáveis e sofridas, que nos fazem sofrer e manchar os encantos.
Não penses que por te amar incondicionalmente e estar sempre pronta para guardar-te em meus braços já não tão atraentes e belos como outrora.
E permitir que viajes livre e seguro por meus doces e ávidos caminhos, que sou uma estrada despida, sem limites ou restrições, uma passagem qualquer.
É preciso que saibas e atentes bem que a mata é aproximadamente virgem, que o mar é quase fechado, que não existe essa peculiar igualdade de pessoas.
E diria, com toda certeza e honestidade, até mesmo revolto e intransponível aos demais navegadores, por mais que sejam insistentes e capazes.
Pois, ainda que penses que ditas as regras, saibas que a atenção e o carinho são indispensáveis, essenciais e que nada termina sem antes… começar!




sexta-feira, dezembro 10, 2010

Carências

Na imposição do lápis, hesito:
Escrevo um poema ou pinto os olhos?
Frente à maçã: Dou a mordida ou uso o blush?
Esse tom bourbon
vem da palavra ou do batom?
Visto meu tomara-que-caia ou rezo:
Tomara-que-fiques.
Uso renda e saio toda prosa ou
espero que renda a prosa?

Expiro, inspiro:

Um romance?
Dá pra viver os dois ou dou pros dois?
Não sei se ando movida pela vaidade ou pelo desejo.   

Reminiscências ou feminiscências?

Poeta ou fêmea onde a carne freme?
Arre, estou em falta com os sêmens-deuses.

Indagações.


       Eu tenho um silêncio em mim que é so meu.
E que sempre fala comigo pelas manhãs quando estou só.
E há murmúrinhos doces.
E há palavras de amor em sua vóz.
Quando ele me chama, fecho os olhos.
E deixo que me conduza ao mesmo lugar que a dedicação me doou.
E assim ali eu sou!

Um alma sem fenda que me distingue
Ou falo que se me imponha.
Em meus olhos apenas fagulhas de gênero olham
E se encatam com os rosas e brancos e negros que a luz filtra.
Na pele do mundo do silêncio que é só meu
Eu sou!
E me calo para ouvir-lhe a voz suprema que há em mim.