quarta-feira, maio 04, 2011

Ato primário


Ele sai do banheiro equilibrando o peso de seu objeto identificado causador de belos males, rufem os tambores, senhoras e senhores, meu leitor querido a cena é a mesma de anteontem. Olha a simetria descombinada. A mulher pensa enquanto o homem caminha em sua direção. Lingerie apropriado para ocasiões, abajur meia luz, palpita o coração e lá está ela deitada.
Mulher templo divino, e começa a jornada. Um-contra-um-igual-a-poucos. Ele deita sobre a mulher que sorri envaidecida. - Obrigada. Este homem é meu.
A mulher se movimenta destorcendo formas, sorrisos, de lado, de cabeça pra baixo, escoando pelo ladrão.
- Olhe para mim, mulher. Isso, mulher, você acertou. Aplausos para a mulher que, após tanto treinamento, finalmente conseguiu engolir.
Um sobe e desce, entra e sai e nada de música porque música vicia. Gire os quadris, mulher, isso. A mulher se arrebenta de raiva quando ouve pronome demonstrativo empregado em tão simples contexto. É demonstrativo ou interjeição a comando de voz? Vamos, amor.  Amor?
A mulher conspira contra palavra.
- Desde quando sou amor?
 Ele não pode chegar antes de mim, não... NÃO. Ele não pode mais ser meu amor. Nunca poderá ser... Respira forte no ouvido dele que já nem sente mais seu corpo. Tanto fogo para pouca palha.
-De quatro agora, meu bem. Vamos. Rema remador.
A mulher lembra-se de ter esquecido de comprar panos para suas mangas. 
E agora o homem é bailarino. O que é isso que ele está fazendo? O homem agita o corpo de forma que a mulher não sabe se chora ou se tenta ajudar o marinheiro a retirar a âncora presa ao chão. Uma posição eclética. Homem sábio é aquele que fomenta algo e responde com decisão. Um golpe de esquerda, um de direita, chave de braço, depressa, mulher, estou quase lá.
Lá aonde?
Irá o homem descobrir o segredo do universo? A mulher conseguirá abrir as pernas sem rasgar-se feito papel? O homem realmente foi à lua ou terá sido montagem para enganar a população? A mulher está rubra de tão descascada. Uma flor. Esfolada, mal passada e, feminina, consegue arrancar gemidos de seu apicultor.
- Mulher, tente outra posição. Vamos. Não quero ainda, amor.
Ele está romântico. É uma benção. 57 minutos de vai e vem, esconde e mostra, morde e assopra e ela está contente porque, de tão cansada de quebrar a lei da gravidade, decide usar a manobra final. 
Ela sabe que ele não se manterá firme. Planejada a vencer, ela sabe os caminhos para o precipício. A mulher beija o homem apaixonada, diz tudo falando nada, e cede o corpo acelerado e úmido em sua última tentativa de vitória. E o juiz apita o final da partida, senhoras e senhores. O homem ejaculou feito louco, rosnou feito cachorro e tombou seu corpo ao lado dela. E, dias depois, o mesmo homem arruma as malas e vai embora dizendo que precisa de mais espaço, de mais vida, de alguém que o ajude, de alguém que se mostre mais companheira. ELA sofre seus lamentos. Chora por alguns dias, conhece outro homem na fila do caixa eletrônico, namora fruta vaidosa, se afoba romântica e segue sua rotina cega... Ela começa a parar de chorar.