quarta-feira, julho 04, 2012

O embrião do mundo há muito se acostumou com o abandono.

                                            

Uma sujeita segue convicta de não poder encontrar o caminho da vida.
Uma sujeita segue convicta de não poder encontrar o caminho.
Uma sujeita segue convicta de não poder encontrar.
Uma sujeita segue convicta de não poder.
Uma sujeita segue convicta de não.
Uma sujeito segue convicta.
Uma sujeita segue.


A sujeita


parada.


Como não passar pelo dia de hoje e não pensar no incansável?


E o que dizer sobre o invencível?
Rico é quem nunca se olhou no espelho.
Quantas enfermidades podem caber em uma vida?
Quantas vidas podem caber nas minhas enfermidades?
Já não sei se sou o cão ou a dona.
Só sinto sono.
O sofá me engole.
Pelo que querem de mim me desconheço.
Mais tarde vou cochilar embaixo da cama.


Desisti da escrita.
O céu começa no meu abismo.

Um comentário:

  1. Todos nós, de alguma forma, somos um pouco masoquistas. Insistimos em escutar aquela música-dor-de-cotovelo para nos afundarmos cada vez mais em nosso infinito buraco sem fundo, e quanto mais nadamos, mais morremos aos poucos na praia. Vivemos inundados pelas nossas lágrimas, cegos, egoístas, pensando que não há mais saída para os nossos problemas e que o resto do mundo é apenas o resto, como se ele fosse menor do que a nossa própria unha. Não nos damos conta de que perante todo esse universo, nós somos realmente quase nada, somos grão de areia, e que as nossas dores são relativamente insignificantes, vistas juntas com todas as coisas que existem. O problema é que ninguém nasceu pra viver de migalhas, nem a gente e nem ninguém.
    Na verdade eu acho que nós nos acostumamos a viver nossa vida mais ou menos, com altos e baixos, tristes, eventualmente felizes.
    Nos ensinaram que a felicidade é feita apenas por momentos felizes, e nos fizeram desistir de correr atrás dela. E então, a felicidade acabou triste, jogada num canto do quarto enquanto nós, que estamos tristes, espalhamos as nossas tristezas pelos quatro cantos do mundo. Afinal, de que adianta ter voz se não pra desabafar, não é mesmo?
    A gente se joga no chão e grita em silêncio esperando que alguém nos escute e que lute por nós. Fechamos nossos olhos na esperança de sermos crianças outra vez, queremos colo, queremos carinho. Mas somos adultos e estamos sozinhos, aprendemos a limpar o rosto e levantar.

    "Quando eu era menino, os mais velhos perguntavam: o que você quer ser quando crescer? Hoje não perguntam mais. Se perguntassem, eu diria que quero ser menino."
    Fernando Sabino

    ResponderExcluir